quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Heidegger e algumas questões ontológicas

Seu refúgio: uma casa existencialista.

A cabana de Heidegger em Todtnauberg, em Selva Negra.


"Sobre la pendiente de un acho valle rodeado de montañas en la parte sur de la Selva Negra, a una altitud de1150 m, se levanta una pequeña cabaña de esquí. Las medidas en planta son de 6 por 7 metros. El bajo tejado colgante cubre tres habitaciones: la cocina, que también es sala de estar, un dormitório y un estudio. Esparcidas en inmensos intervalos a lo largo de la estrecha base del valle y sobre la escarpada ladera opuesta, se apuestan las casas de labranza con sus grandes cubiertas suspendidas. Más arriba de la pendiente, las tierras de pastos y prados dan paso a los bosques con sus oscuros abetos - valerosos y alienados. Sobre todas las cosas ali se levanta un cielo claro de verano, y en su radiante expansión dos halcones planean alrededor de amplios círculos."
HEIDEGGER

Heidegger com um balde de água na porta da cabana.


O Habitar, para Heidegger, em seu pensamento existencial, não é visto insubstancialmente. E essa questão remete às perguntas primeiras, indagações sobre o ser e seu sentido, tratando-as como objeto primeiro da Filosofia. Para o filósofo, essa pergunta não pode ser entendida sem considerar o redor onde vive o sujeito existencial, tudo que lhe é familiar. A casa está como materialização de uma vida que se desenvolve através de um tempo existencial e não cronológico.


A casa do sujeito que se interroga sobre si mesmo é algo mais que um marco neutro, nela habita quem pensa sobre si mesmo e por sua vez esse pensamento habita a casa.

A habitação é um reflexo de nossos conflitos, um lugar do íntimo e do inóspito, um lugar de alienação que mostra ou esconde um despreendimento, uma capacidade para o pleno desenvolvimento do ser.

ÁBALOS, Iñakis. La Buena Vida. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2001. 208 p.

a antecipação de Mies...

...e o retrógrado Modernismo.

Ao longo de quase oito anos, desenvolveu-se em Mies van der Rohe uma incessante inquietação e pesquisa em torno das "casas-pátio" desenhadas por ele. Qual a intenção e o sentido dessa incansável investigação? O que buscava e quais conclusões obteve alcançado seu resultado mais elaborado em 1934, "A casa de três pátios"?

No auge de sua carreira como arquiteto, Mies inicia seu contato com um novo grupo de inelectuais e vislumbra novas concepções. Em especial, Alois Riehl, seu cliente e estudioso da obra de Nietzsche. Na medida em que se aproxima da obra do filósofo alemão, distancia-se do Positivismo Moderno e seus preceitos.

"Somente através do conhecimento filosófico se revela a ordem correta de nossas tarefas e assim o valor e dignidade de nossa existência." MIES, 1927

"Objeto-tipo"


Logo Mies inicia sua investigação em torno do Existenzminimun visando a otimização de tipos standartizados de moradias para famílias operárias.

A aprimoração de Mies visava a idéia de "individualizar um sistema", isto é, operar com poucas variáveis ligadas entre si para obter resultados completos e diversos: construtivos, espaciais e estruturais.

Se estudamos as dimensões desses projetos todos aproximam-se de 200 e 300 metros quadrados, somando os pátios, aproximam-se de 1000 metros.

As casas-pátios, como exercícios abstratos, e projetadas sem cliente são desprovidas de um programa familiar. E Mies, querendo trabalhar o máximo de abstração sobre a habitação, se nega a pensar em termos "familiares". Renuncia-se a pensar em programas convencionais completos, elementos representativos de privacidade e exigências morais embutidas.

Em nenhum desses estudos as tipologias possuem mais de um dormitório, mais precisamente, nenhuma possui mais que uma cama. Na verdade, não existe um espaço enclausurado, um "cômodo" que possa denominar-se dormitório. O espaço organiza-se de forma contínua com interrupções onde estão móveis e objetos. Essas "interrupções" são planos que sutilmente indicam as funções a serem executadas no local. Nesse momento, Mies van der Rohe já dava início a discussão sobre continuidade e conectividade, o questionamento de como viveria o homem moderno se visasse atender unicamente sua individualidade.

Investigação Miesiana X Tirania igualitarista do "objeto-tipo"

= Casa com três pátios de 1934

Apesar do caráter contínuo, os espaços e seus usos se distinguem com clareza. Sua distribuição é relativamente funcional, os espaços adequados, a cama com dimensões generosas.

Se considerassemos duas dimensões, dificilmente imaginaríamos que seu usuário seria uma pessoa única. Assim como, não imaginaríamos que os muros ali presentes não pretendem servir de limites para o lote, nem para criar ali um microclima. Os muros estão para criar um ambiente de privacidade, para ocultar o habitante da moradia, para permitir que se desenvolva dentro da casa uma vida profundamente livre, livre de toda moral, distante de qualquer coersão social ou policial.

ÁBALOS, Iñakis. La Buena Vida. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2001. 208 p.