...e o retrógrado Modernismo.
Ao longo de quase oito anos, desenvolveu-se em Mies van der Rohe uma incessante inquietação e pesquisa em torno das "casas-pátio" desenhadas por ele. Qual a intenção e o sentido dessa incansável investigação? O que buscava e quais conclusões obteve alcançado seu resultado mais elaborado em 1934, "A casa de três pátios"?
No auge de sua carreira como arquiteto, Mies inicia seu contato com um novo grupo de inelectuais e vislumbra novas concepções. Em especial, Alois Riehl, seu cliente e estudioso da obra de Nietzsche. Na medida em que se aproxima da obra do filósofo alemão, distancia-se do Positivismo Moderno e seus preceitos.
"Somente através do conhecimento filosófico se revela a ordem correta de nossas tarefas e assim o valor e dignidade de nossa existência." MIES, 1927
"Objeto-tipo"
Logo Mies inicia sua investigação em torno do Existenzminimun visando a otimização de tipos standartizados de moradias para famílias operárias.
A aprimoração de Mies visava a idéia de "individualizar um sistema", isto é, operar com poucas variáveis ligadas entre si para obter resultados completos e diversos: construtivos, espaciais e estruturais.
Se estudamos as dimensões desses projetos todos aproximam-se de 200 e 300 metros quadrados, somando os pátios, aproximam-se de 1000 metros.
As casas-pátios, como exercícios abstratos, e projetadas sem cliente são desprovidas de um programa familiar. E Mies, querendo trabalhar o máximo de abstração sobre a habitação, se nega a pensar em termos "familiares". Renuncia-se a pensar em programas convencionais completos, elementos representativos de privacidade e exigências morais embutidas.
Em nenhum desses estudos as tipologias possuem mais de um dormitório, mais precisamente, nenhuma possui mais que uma cama. Na verdade, não existe um espaço enclausurado, um "cômodo" que possa denominar-se dormitório. O espaço organiza-se de forma contínua com interrupções onde estão móveis e objetos. Essas "interrupções" são planos que sutilmente indicam as funções a serem executadas no local. Nesse momento, Mies van der Rohe já dava início a discussão sobre continuidade e conectividade, o questionamento de como viveria o homem moderno se visasse atender unicamente sua individualidade.
Investigação Miesiana X Tirania igualitarista do "objeto-tipo"
= Casa com três pátios de 1934
Apesar do caráter contínuo, os espaços e seus usos se distinguem com clareza. Sua distribuição é relativamente funcional, os espaços adequados, a cama com dimensões generosas.
Se considerassemos duas dimensões, dificilmente imaginaríamos que seu usuário seria uma pessoa única. Assim como, não imaginaríamos que os muros ali presentes não pretendem servir de limites para o lote, nem para criar ali um microclima. Os muros estão para criar um ambiente de privacidade, para ocultar o habitante da moradia, para permitir que se desenvolva dentro da casa uma vida profundamente livre, livre de toda moral, distante de qualquer coersão social ou policial.
ÁBALOS, Iñakis. La Buena Vida. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2001. 208 p.